29 de dezembro de 2017

Para a minha filha Maria Ana…


Para a minha “caçula”...
(Uma filha muito especial)
Para a menina que trouxe no meu ventre para a vida!

O que eu te quero dizer?
Que acredites no valor do ser humano e isso, inclui-te a ti!
Desejo-te alegria e segurança, conforto e sabedoria.
Desejo-te a beleza do silêncio, a glória da luz do sol, o mistério da noite, a força da chama, o poder da água, a doçura do ar, a tranquila força da natureza, o amor que vive na raiz funda das coisas.
Desejo-te o deslumbramento da vida...
Desejo que tenhas amor...
Um abraço de criança, beijinhos a sabor a doce, o ronronar de um gato...a companhia fiel de um cão...
O ânimo de uma carícia...
O brilho de um olhar....
O som da chave na fechadura, e amor em abundância...
O teu canto...o teu abrigo...
Terás sempre o meu amor.
O que nos une e que levarás contigo para sempre, para além de um mundo que nunca irei conhecer...
Que conserves os teus dons... 
Que os aperfeiçoes...
Luz no coração...
E amigos que te acompanhem na tua caminhada...
Desejo-te a vida!
Essa desde que nasceste, tem sido como um livro extraordinário, daqueles em que mal se pode esperar para virar a página e ver o que fizeste de novo...
Não sei que capítulos prefiro...
Os calmos? Ou os “com cenas dramáticas”? Nunca é aborrecido!
Tenho orgulho em tudo aquilo que conseguiste.
Trabalhaste muito para isso.
Tenho orgulho na tua beleza e na tua inteligência. 
Mas orgulho-me mais ainda, que sejas tu própria.
O êxito é algo suplementar.
Porque para mim, és especial, faças o que fizeres.
Obrigada por me teres feito passar por avó das tuas bonecas...
Por me fazeres acreditar que era a melhor mãe do mundo!
Por partilhares comigo cantigas...danças...teatros...sonhos!
Obrigada por pensares que “não sou velha”, ou pelo menos “tão velha assim” 
O que te desejo mais?
O meu desejo mais profundo?
Desejo-te a vida!

Desejo-te uma filha como tu!
Mãe



Mulher da Beira


Tem no avental sua graça, nos braços, a pele trigueira, nos lenços um ar vaidoso.
No “tic-tac“ da tamanca, na barra da sua saia, ou de merino, ou de estopa, orgulhosa da forreta…
Esta é a menina – mulher, e é bela, no balançar das argolas carniceiras, que lhe brincam nas orelhas…
Abre cortes e cortelhos, e enrola a sua trança, tem a frescura da cor que lhe dá a natureza, até onde a vista alcança.
É sensível ao canto da passarada, à cigarra e aos grilos, ao som da água a regar, ao brotar dos seus mimos que tem no quinchoso a guardar…
Mas é forte na desgraça, e é trave mestra da casa!
Ri, no rio, embandeirando lençóis, alvos de linho, corpetes, saiotes, toalhas, que estendidas, vão corando pelo chão…
Com cantigas os fiou, e os bordou, nas noites frias e longas, na palha da loja ao serão.
É feliz esta mulher, que é Beirã, porque guarda no peito segredos, sabedorias, e da vida, sabe coisas, já das avós aprendidas.
Vem do campo, no regaço, um punhado de feijões… um molho de caldo à cabeça…
Lá vai ela, entra em casa, acende um lume, aconchegadinho com chamiças… enxaguando panelas e potes…
E os garotos até esperam que ela asse um coirato… ou seja dia de cozer… que o forno “cheira a quente”, e na maceira, aconchegada, está a malga do crescente.
Vai a canchas–pernas, na burra, manhã fora…
Manhã fora; rosto entregue ao vento, e não deixa de ser airosa.
Sacha milho e milhão, em Cavilhar Dianteiro… e na volta inda dança uma modinha no terreiro…
E é Domingo, dia de ir ver a Deus, que a beirã, é mulher crente, e tem fé e reza e pede, por todos, p’los oitros, p’los seus…
Mas esta mulher da Beira, alegre, ou triste, loira ou trigueira, traz um menino no ventre. Labuta, cria os outros, que lhe andam à volta dos dias, como um fado, ou um baile e enrola o mais pequeno, no aconchego do xaile…
Tem crendices… sabe rezas e acredita em sinais, que em segredos encerra…
E diz que vai chover, quando as “salamantegas”, andam ao lasso da terra…
Quando as névoas lancheiras vêm da Senhora da Lapa…
Quando zurra o burro no Zonho...
São histórias que parecem sonho, mas não são!
E aquele “aurgueiro” no olho, tem a sua reza também:

“Estrelinha da banda dalém
Tira o aurgueiro qu’esta vistinha tem
Agora, aqui neste dia
Padre-Nosso, Avé-Maria!”

Tanto, tanto, por contar, tanta coisa por dizer…
Mas somos nós, os mais novos, que temos orgulho em saber, trazer à boca do povo, a riqueza que aqui se esconde…
Da camisa que é de linho,
E peitilho de riscado,
Da fisga de andar aos melros,
Do cabrito ensopado,
Do coelho com carqueja,
Do conto, contado à lareira,
Da história do João Soldado,
Que foi na guerra abandonado,
Da oração ao Santo António,
Ao “aberto”, ao “desnocado”,
Do escanar e da malhada,
E do grito da cegada,
Do carro e dos estadulhos,
A transbordar palha fora,
Chiando pelos caminhos,
Que a noite já ali mora,
E no colchão de riscado,
Que é fruto do seu trabalho,
Adormece esta mulher, que é Beirã, é bela, e diferente…
E é sobretudo o rosto da Beira, da aldeia, e desta que é nossa gente.


(Pelo que a Beira me deu p'la falta de "muita ilha")


17 de abril de 2013


Há horas que se encurtam,
E me fazem inteira,
Há cheiros do tempo,
Que me ensinam silêncios,
Há luz que sorri ,    corada,
Entrelaçada na cor da palavra,
E há memórias,
E rostos,
E há águas e fontes,
Há céus e nuvens…
E estrelas cadentes,
Caindo na alma das gentes,
Como fogo pelos montes,
Há chegadas,
Partidas,
Nas estações que desembocam na vida!
E as minhas palavras, são só
Como orvalho,
Que não receia “nascer molhado”!


Hoje por terras do Alto Paiva



O poema é a palavra soletrada,
Iluminada....
O poema é o vento nos cabelos,
A urze no monte florindo...
E para além do monte: O mar ,
Na berma do meu caminho,
O poema é a palavra crescendo,
Dentro do que em nós nos transcende...
É a gota de orvalho,
A lua fora d'horas,
Poema é a palavra limpa,
Que alinho e desalinho,
Só porque nasce , sentindo... surgindo!


27 de março de 2013

“Brincando com a chuva”


Água que chove,
Chove que chuva,
Que molha, satura,
E dura… perdura,
É tanta, e já cansa!
Que venha um sol,
Um céu azul,
Uma nuvem branca,
Que sem água flutua, balança,
Me aquece e me espanta,
Na diária esperança,
Que mal nasça o dia,
Se tenha enganado a meteorologia…
:-)


25 de março de 2013

Relembrando...


... E há tristezas, que se soltam de lugares secretos... e nos navegam os gestos... e embriagam os olhos...
E é um grão de areia... em poeira de luz clara...
Onda de mar... tocando a face de sal... e o corpo da alma tem um sabor exausto... como um infinito parto...
Afago a vida, para comandar o sentido das coisas...
Enroscando-me, na minha concha de "lapa burra", para brilhar de madre-pérola...
É preciso dar ocupação à "ave que magoada por vezes voa em nós"... num minuto de cinza...
E peço ao vento que leve tudo... ao vento que vem da Nave... cortado, frio e rápido...
E tenho mil sonhos na minha mente "descrente-crente", nesta aventura de ser: Eu!
E esta emaranhada teia, escrava nas minhas mãos, plantando palavras que redescubro, nesta dimensão...
Todo o nada me toca... e é tudo... dona de tudo... sem nada ter...
Simplesmente porque num minuto talharam em mim este "sabor de sempre"...
E entro pelas frechas de mim, por onde escorrem as minhas lutas "enlutadas"...
E ás vezes, sou "menos eu", em viagens, mil vezes adiadas...
Desta que em mim faço nascer... "empoemamdo-me" a esta entrega, a que livre me "condeno"!
E continuo de coração descalço, sobre a vida!
As palavras "estão por um fio"...
Fico por aqui!

21 de março de 2013

21 de Março, chegada da "Prima Vera"

... No dia mundial da poesia!

Palavras que são soltas,
Como vento - onda - asa,
Alegria, desventuras,
Palavras vestidas ou nuas,
Palavras cantadas… rimadas ou não,
Palavras construídas por dentro…
Palavras de amor e de amigo!
Palavras que são como abraços - laços - beijos…
Palavras que lidas
Têm cor, som, melodia…
São palavras!
São sentidos!
Uma rosa que é botão,
Um botão que é rosa e adorna o coração,
Um campo em flor
Que em verde se torna
E é esperança ou é trigo…
Uma palavra presa á alma por um fio
Tão profunda, secreta
E em constante alegria...
É palavra ou é sentir a que chamo poesia!

8 de março de 2013

Há dias para tudo!


"Há dias para tudo"!
(Não é que "ache muita graça")

Mas deixo só um ligeiro odor, do que eu penso... sinto e sei!

Hoje o meu respeito,
Pelas mulheres, que no silêncio, e na solidão,
Criaram os seus filhos,
Que trouxeram no ventre, no peito,
Foram mães, deles... dos seus pais... irmãs...
Por vezes duma família inteira,
Pelas mulheres que aguentaram firmes,
Palavras duras... Gestos agrestes...
Uma dor apertada no fundo mais fundo do coração,
E fizeram de conta... Que não!
E o não que mostraram,
Nem foi entendido,
Num sorriso, agradecido...
Pelas mulheres, que se desdobraram,
E personificaram as "personagens",
Que "não lhes competia",
Mas que o Amor exigia!
Pelas mulheres em que o sol ainda não, nado,
Seguiam p'rós campos,
Filho na mão, outro no colo,
Entre o semear, o regar…
Dormiam sonhos, estes meninos,
À sombra das "marinheiras"...
E os panos corando pelos lameiros... Anos inteiros!!!
Pelas mulheres, que não tiveram palavra e guardaram a voz...
Pelas mulheres, que restaram sós,
Começaram de novo, atando nós...
Tantas são estas mulheres...
De quem falo, e conheço!
Para elas o meu apreço!
Pelas que nunca tiveram na vida,
Uma palavra agradecida!

Parece "triste", esta mensagem… mas do que vos falo,
É da "mulher-mãe-filha", coragem!
Ah! Mulheres do meu País...
Ah! Mulheres da minha terra...
O mundo que em vós se encerra!



















Todas nós entendemos, todas temos olhos... ouvidos... sentires...
Por vezes, "fazemos de conta que não", dá mais jeito...
Eu teria acrescentado muito mais, ao que escrevi...
Ás vezes devemos "desnudar verdades", para se chegar à clareza!

7 de março de 2013

Inverno na Beira


Está de luto o céu da Beira...
O casario, acinzentou-se...
As árvores nuas, tremem de frio...
O termómetro insiste em descer...
A luz dos candeeiros, é de um amarelo roçando o triste...
Da Serra da Lapa, correm as névoas lancheiras, adivinhando, tailhões d'água... trovoadas...
O vento assobia pelas chaminés!
Só falta o "estrondo do mar"!
Que venha essa prima, que é "Vera"...!!!!
Que Março corre na folha do calendário, pendurado na parede da cozinha...
E os meus olhos querem sol!...
Agradecia, "S. Pedro"!
Bem-haja! Obrigadinha!
Um raiozinho, que seja, e me alegre a "moradia"!


5 de março de 2013

A palavra "Ilhéu"!


Do branco mais branco,
Que enreda a onda,
Que envolve e molha...
Do toque salgado,
Que abraça as rochas,
E refresca o rosto...
Por dentro de mim,
Abrem-se braços,
De longas mãos, esguias, largas,
Abertas... Fechadas...
Que em concha cedo,
Me transformaram...
Perdida, encontrada,
Num bater de vaga...
No pé, na pegada,
Da areia negra, rasa, molhada...
Que sou "gente das ilhas"...
De outros lugares,
Saberes, sabores,
Sentires, odores...
E em serranias me achei encontrada...
Que dum horizonte,
Dia após dia, nascido na água...
Fui-me fazendo... meio peixe… meio ave
Ou semente de fruto
Que à vida se abre...
Porque ilhéus são gente que nasceu resistente!
Coração dividido, entre céu e mar,
Transbordando de tudo, que "dá p'ra pensar"
E é desta harmonia,
Que a palavra: Ilhéu... É só poesia!

Mizé
(Para um Ilhéu-Terceirense, que hoje faria 99 anos, de nome Francisco... A quem agradeço o que sou e o ter-me dito: Escreve! Escreve!)